
Devo sentir que sem ti sou um sofredor
Devo sonhar que sonhar é substituir a dor
Devo saber que saber é se enganar
Devo dizer que calar é consentir sem se contentar
Devo lutar que não lutar é estar sem luz
Devo amar que não amar é carregar de outro jeito a cruz
Devo sorrir que sem sorrir o rio passa desigual
Devo cantar que sem cantar o verbo é um numeral
Devo querer que por querer faço o festival
Devo erguer que ao erguer passo do passional
Devo dispor que por dispor dispo sem desvestir
Devo compor que ao compor pareço que eu vou parir
Devo servir que servir é vir a ser fã do afã do Capinam
Devo ousar que ousar é ouvir ontem o amanhã
Devo perder que perder é fonte de encontrar
Devo temer que temer, pois, são dois a se admirar
Devo chorar que chorar é uma oração sem ajoelhar
Devo orar que orar melhora minha hora de caminhar
Devo pedir que pedir permite que eu ganhe ou não
Devo doar que doar simplesmente faz bem ao meu coração
Devo descrer que descrer desfaz o toldo azul do céu
Devo rever que rever refaz da noite um dia de véu
Devo passar que passar é o recomeço depois do fim
Devo durar que durar é o futuro de pra onde eu vim
Devo cair que cair é medir a altura mais pura de mim
Devo voar que voar é poder visitar a casa de um querubim
Devo tecer que tecer é entreter com o mesmo teor
Devo rimar que rimar é ser poeta mesmo sem um tear
Devo dever que dever é devolver o vaso ao criador
Devo propor que propor é prorrogar o prazo de entregar
(Dedicado ao baiano Roberto Mendes, atual grande parceiro de Capinam)
(Pedro Ramúcio)