quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

PQNA PLÊIADE


Todos têm sua plêiade de poetas. Eis (parte d)a minha:















Com a palavra, Guimarães Rosa.
Com o pensamento, Nelson Rodrigues.
Com o sentimento, Drummond.
Com a ficção, Fernando Pessoa.

Comigo a poesia ficou rouca...

(Pedro Ramúcio)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ROMÁRIO, NA GRANDE ÁREA

A primeira vez que ouvi falar de Romário foi pelo rádio, mas já tive aquela sensação de se tratar de um gênio do futebol. E o tempo só fez corroborar aquele meu tênue palpite. Romário tornou-se o rei da grande área e, por onde desfilou com sua arte, colecionou admiradores efusivos e apaixonados, e alguns desafetos extra-campo, porque dentro das quatro linhas ele resolvia as paradas mais tortas a sangue frio, sua grande virtude de goleador.

Quem é Romário, dentro da grande área?
Romário, dentro da grande área,
É o maior artilheiro de todos os tempos
Que eu li na coluna do cerebral Tostão.
Romário, dentro da grande área:
"Eis o maior de todos", era como o saudava
Um dos maiores de todos os tempos,
O craque holandês Johann Cruyff.
Mirem-no: ele é maior
Que o Van Basten foi;
Mirem-no: ele é maior
Que o Reinaldo foi;
Mirem-no: ele é maior
Que o Maradona foi;
Mirem-no: ele é maior
Que o Pelé foi,
Dentro da grande área.

Quantos gols antológicos, Romário?
Desconcertantes, quantos dribles
Num milímetro quadrado?
Quanta alegria, Romário, vê-lo jogar
Com tamanha arte e a mais pura
Malandragem carioca! - Noel Rosa
Do futebol.
Você que ama o Rio, Romário,
Dos gramados fez a sua praia
De areia movediça, onde enfeitiça
Enfeitiçava seus marcadores.
Fez do gol o seu sol de cada dia,
Fez das lágrimas e do suor
Dos adversários um mar de vitórias
Pelo mundo afora.
Você, Romário, caberia na Seleção de 70,
A melhor de todas que já houve.
Alguém sacaria Jairzinho ou Rivelino...
O tostão, por conta própria, daria
A camisa dele a você. Mas,
Não vamos mexer com o imponderável:
O Olimpo não permite que brinquemos
Com os deuses.
Então, fico imaginando vossa excelência
Na Seleção de 82, a mais bonita
Que já houve.
Uma Seleção que, ao perder, Reinaldo
E, depois, Careca, ambos por contusão,
Ficara tão ressentida de outro artilheiro
Da mesma luminosidade, que, você,
Romário, ali se encaixaria feito luva
Para o que seria o maior título
De todos os tempos do futebol.
E, se Paolo Rossi fizesse trezentos gols,
Você haveria de fazer outros trezentos e trinta,
Com passes precisos de Falcão, Zico, Cerezo
E Sócrates, o quadrado mais mágico
Que alguém já desenhou.

Perdoe-me tantas conjecturas, Romário,
No dia da sua despedida com a camisa
Da Seleção Brasileira.
É que você merecia uma Copa do Mundo
Mais brilhante que a de 94,
Conquistada apenas nos pênaltis.
No mais, você foi sempre impecável:
Maior artilheiro de todos os tempos,
Da grande área.

Publicado no Diário do Rio Doce, em 27 de abril de 2005.

(Pedro Ramúcio)

domingo, 17 de janeiro de 2010

VIOLÃO BOSCO




































Sempre ad(mirei) sobremaneira a maneira como João Bosco e seu violão se (con)fundem dentro das canções. Vislumbro neles um elo a mais que cordas e mãos a percutirem som e vibração. Há ali um enlace (nupcial?) a mais, ou menos me engano. João leva seu violão pro palco como quem atrai a noiva prum altar: casamento perfeito entre instrumento e artista; intensa entrega no esfregar-se um no outro que até parece passos de uma dança, ou mesmo gestos de um ato sexual. Eu, de minha parte, não tenho nenhuma dúvida de que as algaravias que João profere durante o coito, digo, canto, sejam orgasmos musicais. Ainda bem que Aldir é psi.

O violão conversa
Com ninguém.
Menos com João,
Com João
O violão conversa.

E eu não sei quem
Com quem, quem canta.
Se João tem voz de violão,
E o violão de João tem vocais
Cordas a mais na garganta.

O violão namora
Com ninguém.
Menos com João,
Com João
O violão namora.

E eu não sei quem
Cai nos braços de quem
No vai-e-vem da canção,
Se o violão desvira mulher
E João delira ser homem.

(Pedro Ramúcio)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O MAIOR POETA BRASILEIRO VIVO


Dizem alguns 'especialistas em arte' que o atual Grande Poeta brasileiro seria Ferreira Gullar. Ele próprio desconcorda de quem concorda com isso. Drummond recusava veementemente o termo, embora o merecesse segundo quase unanimidade. Fernando Pessoa escandalizou Portugal, quando surgiu já proclamando-se um supra-Camões. Eu, antimineiramente, resolvi entrar na discussão:









O maior poeta brasileiro vivo, sou eu.

Pasmem, não é Ferreira Gullar.

Os meus poemas são mais sujos que os dele,

A minha poesia (ao computador) exprime

Mais vanguarda que os galos de outrora dele.

Minhas rimas que não rimam com nada

Inventam melhor não haver uma estrada

Onde passem versos em vez de bois

A caminho de matadouros, ou de meu estômago

Vazio...


O maior poeta brasileiro vivo, não sou eu.

Grasnem, deve ser mesmo Ferreira Gullar.

Os meus poemas são menos límpidos que os dele,

A minha poesia (ao computador) exprime

Menos vanguarda que os galos já antigos dele.

Minhas rimas primas convertem menos lágrimas

Dos olhos de minha amada do que as dele,

Dos olhos da amada dele...


O maior poeta brasileiro vivo, é Ledo Ivo.

(Pedro Ramúcio)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

ATIRE A PRIMEIRA PÉTALA

























Certo dia um amigo meu mandou-me via e-mail a natural notícia de que outro seu amigo estava sofrendo das dores (de oratórios) do cotovelo. A casa tinha caído pro amigo dele. Tentei achar remédio pro mal-me-quer bem-me-quer do amigo do meu amigo, mas não sou douto no assunto. Via de regra, uns versos:

Se o físico Renato Braz sofre de amor
Se o músico Roberto Lima sofre de amor
Se o cantor de ópera, o operário
Pedro Ramúcio sofre fingindo de amor
Se o matemático Wagner Tiso sofre de amor
Se o empresário de moda Renato Russo sofria
De amor

Se o arquiteto Paulinho da Viola sofre de amor
Se o escritor Luís Inácio Lula da Silva sofre de amor
Se o autor de novelas Ronaldo Nazário sofre de amor
Se o economista Arrigo Barnabé sofre de amor
Se o astronauta Sivuca sofria de amor

Se o pastor luterano Roberto Mendes sofre de amor
Se o ecumênico budista Pelé sofre de amor
Se o pintor Marco Van Basten sofre de amor
Se o médico Carlos Drummond de Andrade sofria
De amor

Se o tenista Raimundo Fagner sofre de amor
Se o político (ops!) Gilberto Gil sofre de amor
Se o dançarino Faustão sofre muito de amor

Se o contador de anedotas Geraldo Vandré sofre
Calado de amor

Tudo está no seu lugar, graças a Deus

(Pedro Ramúcio)

sábado, 2 de janeiro de 2010

O LIVRO DE MÁGOAS DA FLORBELA ESPANCA

A primeira vez que me deparei com a poesia de Florbela Espanca foi num disco do compositor e inventor Raimundo Fagner: um soneto chamado "Fanatismo", magistralmente musicado e interpretado por ele. Depois outro soneto: "Impossível", num disco de Ana Belen, composição e participação especialíssima dele, Fagner. Aí, fui atrás dos livros da singular poeta portuguesa Flor d'Alma da Conceição Espanca e, literalmente, tomei uma "surra" de sua poesia densa e melancólica, mas bela e prazeirosa de se ler, reler, ouvir e jamais esquecer.

Eu só sei ler o Livro de Mágoas
Da Florbela Espanca.
Corro os meus dias atrás de outros...
Sempre os mesmos! E cismo
Ser autor de sonetos, poeta
Com algum esmero.
Mas não consigo buscar o ritmo,
Contar a métrica, ditar a melodia:
Carpir a poesia de sublime imaginação.
Tudo que posso são umas linhas
Com algumas luzes azuis,
E cinzas as minhas palavras.
Eu só sei ler o Livro de Mágoas
Da Florbela Espanca.

Dedicado a Evandro de Castro Filgueiras Filho,
poeta precoce até no nome.

(Pedro Ramúcio)