domingo, 25 de abril de 2010

POEMA nu BLOGUE




















"Este é o poema no blogue
por onde o poeta escuta
se dele falam mal
ou se o amam.
Um poema no blogue
sequioso de comentários?
São nenhum livro velho
e mais nem um livro novo
de um poeta inda mais louco
que a morte que sonhou
e contudo o provoca
a morrer nunca e sempre.
Tantos livros que a vida
empurrou para longe
de mim
mais um poema no blogue
em que o poeta se contempla
e se diz bom-dia
(ensaio de boa-tarde,
variante de boa-noite,
que tudo é a vasta noite
em seus compartimentos
nem sempre respiráveis
e todos habitados
enfim.)
Não me leias se buscas
flamante novidade
ou sopro do Pessoa.
Aquilo que escondo
e o mais que segue explícito
em negros alçapões
são notícias humanas,
simples estar-no-mundo
de um heterônimo-órfão,
um não-estar-estando,
mas de tal jeito urdidos
o roubo e a confissão
que nem distingo eu mesmo
o sentido e o solapado.
Tudo roubado? Nada.
Nada sentido? Tudo.
O blogue pouco cuida
de direitos autorais:
e a paródia mais rica
é um sinal de mais."

(Pedro Ramúcio sobre o Poema-Orelha de CDA)

domingo, 18 de abril de 2010

"PONTARIA"
























É com imensa, mais que imensa alegria, que posto aqui no Canto Geral um texto de Líria Porto, artista que eu venho descobrindo com o atraso de cem anos-luz de solidão, mas agora vou em busca do tempo perdido e do cheiro de Deus que habita esta poeta, artesã que me surpreende a cada poema dotado de leveza, graça e a fina ironia dos grandes pensadores, além do hábil traquejo com a palavra escrita, que lhe escorre da alma, percorre-lhe a palma e amalgama-se no papel sempre num tiro certeiro: verso que conversa com quem o lê, língua afiada e olho no olho. Que mais posso dizer de? Que mais? Que?
Dela, eu (es)colhi, posto que esse pequeno quintal da blogosfera destina-se a homenagear grandes artistas que comoveram o mundo (ou sua aldeia, o que dá no mesmo), hoje eu semeei no Canto Geral, trazido de 'tanto mar', um tantinho de palavras em intenção de um certo Bituca, mais conhecido como Mister Milton Nascimento. Um tantinho de palavras semeadas, mas que dão a dimensão do alcance e da 'pontaria' de Líria Porto: de Araguari para BH para Miami para Brasília para o mundo...

milton minério
nascimento pássaro
caçador de min(as)

(Líria Porto)

domingo, 11 de abril de 2010

HELOO, PAUL McCARTNEY





























Há alguns anos, ouvi pelo rádio, quando as Rádios brasileiras ainda tocavam os autênticos músicos brasileiros, a canção "Hello, Goodbye", dos Beatles, na voz do mineiro Milton Nascimento. E, paradoxalmente, aquela interpretação do Milton para uma canção estrangeira suscitou, em mim, imenso sentimento de brasilidade - sem falso ufanismo -, por saber que um artista nacional era capaz de impor sua marca única e pessoal ao registrar, de forma emocionada e comovedora, um grande sucesso mundial numa língua que não é a de seu povo, porém, ali tão bem representado em arte e engenho. Desde então, eu fiquei imaginando qual seria a reação do Paul McCartney quando ouvisse todo o talento do nosso Bituca (sem falso ufanismo ou xenofobia de qualquer espécie), mas fiquei delirando poder ver a cara do Paul ao ouvir sua obra ganhando tal manobra vocal.

Eu só queria ver a cara do Paul McCartney quando ouvisse

Cantando “Hello, Goodbye” o Milton Nascimento


Eu só queria, de repente, ver a cara dele quando ouvisse

Mister Milton Nascimento cantando “San Vicente”


Eu só queria, sábio sabiá, ver a cara dele quando ouvisse

Mister Milton Nascimento cantando “O Que será”


Eu só queria ver a cara do Paul McCartney quando ouvisse

Mister Milton Nascimento cantando “Travessia”


Eu só queria, por um triz, ver a cara dele quando ouvisse

Mister Milton Nascimento cantando “Beatriz”


Eu só queria, tão natural, ver a cara dele quando ouvisse

O Bituca cantando “Brasil, Nome de Vegetal”


Eu só queria ver a cara do Paul McCartney quando ouvisse

Mister Milton Nascimento cantando “Maria, Maria”


Eu só queria, por mil razões, ver a cara dele quando ouvisse

Mister Milton Nascimento cantando “Certas Canções”


Eu só queria, para emoldurar, ver a cara dele quando ouvisse

Mister Milton Nascimento cantando “Conversando no Bar”


Eu só queria ver a cara do Paul McCartney quando ouvisse

Mister Milton Nascimento cantando “Balé da Utopia”


Eu só queria, quem lhe dera, ver a cara dele quando ouvisse

Mister Milton Nascimento cantando “O Cio da Terra”


Eu só queria, morena menina, ver a cara dele quando ouvisse

Mister Milton Nascimento cantando “Clube da Esquina”


Eu só queria ver a cara do ex-beato Paul quando ouvisse

Cantando “Para Lennon e McCartney” Sir Milton Nascimento


(Pedro Ramúcio)

domingo, 4 de abril de 2010

UM PIANO PARA JOHN LENNON


Sempre logrei escrever algo para John Lennon

Sempre imaginei que ele fosse ouvir e gostar

De saber que um poeta qualquer dos trópicos

Do Sul

Sempre sonhou em fazê-lo música mineira

Sempre escutei Lennon na música mineira

Nas oitavas acima do Milton e nos acordes do Lô

No piano de Wagner Tiso e nas melodias do Beto Guedes

Nas cordas de Celso Adolfo e nos vôos mágicos do 14 Bis

Na mista récita do Aggeu Marques e nos falsetes de Venturini

Na guitarra de Toninho Horta e nas letras vibrantes de Brant

Nos versos que li do Vander Lee e no canto com que me espanto

Do Tadeu

Franco


Então comprei um piano, aluguei uma guitarra

Rabisquei umas rimas, imitei uns pássaros

Desaposentei meus óculos de trezentos graus

Meus óculos “redondos” de duzentos graus

Meus óculos antigos a verem navios e naus

Subi os degraus de nuvens nos fundos do quintal

De casa

(Ainda há um quintal nos fundos de casa)

E fui compondo este poeminha para minha

Homenagem a Lennon, eu e minhas mãos trêmulas

(Êmulas de si mesmas), para John Lennon

Eu e minhas pernas bambas, para John Lennon

Eu e meus pés descalços, para John Lennon

Eu e minhas asas partidas, para John Lennon

Eu e meus ouvidos ávidos, para John Lennon


Para John Lennon, minha roupa rasgada

Desvestindo a pele e as epidermes da alma

Para John Lennon, meu corpo marcado

No rosto, na sola, na palma e no sangue

Para John Lennon, meus olhos verdes

Ainda que maduros pelas noites em claro

Templos de solidão e lições de sobrevivência


John Lennon não sobreviveu ao tiro

À queima-roupa

John Lennon não ressuscitou à bala

De chumbo

John Lennon não soube morrer

De velhice


Mas John Lennon ainda está vivo

Nas canções

John Lennon renasce a cada solo

De guitarra

John Lennon ressurge em cada nota

De piano

Jonh Lennon revive em cada verso

Da juventude

Jonh Lennon comemora-se a cada

8 de dezembro


John Lennon mais que uma vela acesa

Tornou-se estrela no grande céu imaginário

Da minha constelação de diamantes


Ouça, John Lennon, o poeminha que lhe fiz

Com minhas mãos no piano mudo do teclado

Do computador

Onde guitarras solam “Imagine”

Onde cítaras citam “Imagine”

Onde banjos esbanjam “Imagine”


Ouça, John Lennon, meu coração batendo

Palmas em Dó Maior


(Pedro Ramúcio)