quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ROMÁRIO, NA GRANDE ÁREA

A primeira vez que ouvi falar de Romário foi pelo rádio, mas já tive aquela sensação de se tratar de um gênio do futebol. E o tempo só fez corroborar aquele meu tênue palpite. Romário tornou-se o rei da grande área e, por onde desfilou com sua arte, colecionou admiradores efusivos e apaixonados, e alguns desafetos extra-campo, porque dentro das quatro linhas ele resolvia as paradas mais tortas a sangue frio, sua grande virtude de goleador.

Quem é Romário, dentro da grande área?
Romário, dentro da grande área,
É o maior artilheiro de todos os tempos
Que eu li na coluna do cerebral Tostão.
Romário, dentro da grande área:
"Eis o maior de todos", era como o saudava
Um dos maiores de todos os tempos,
O craque holandês Johann Cruyff.
Mirem-no: ele é maior
Que o Van Basten foi;
Mirem-no: ele é maior
Que o Reinaldo foi;
Mirem-no: ele é maior
Que o Maradona foi;
Mirem-no: ele é maior
Que o Pelé foi,
Dentro da grande área.

Quantos gols antológicos, Romário?
Desconcertantes, quantos dribles
Num milímetro quadrado?
Quanta alegria, Romário, vê-lo jogar
Com tamanha arte e a mais pura
Malandragem carioca! - Noel Rosa
Do futebol.
Você que ama o Rio, Romário,
Dos gramados fez a sua praia
De areia movediça, onde enfeitiça
Enfeitiçava seus marcadores.
Fez do gol o seu sol de cada dia,
Fez das lágrimas e do suor
Dos adversários um mar de vitórias
Pelo mundo afora.
Você, Romário, caberia na Seleção de 70,
A melhor de todas que já houve.
Alguém sacaria Jairzinho ou Rivelino...
O tostão, por conta própria, daria
A camisa dele a você. Mas,
Não vamos mexer com o imponderável:
O Olimpo não permite que brinquemos
Com os deuses.
Então, fico imaginando vossa excelência
Na Seleção de 82, a mais bonita
Que já houve.
Uma Seleção que, ao perder, Reinaldo
E, depois, Careca, ambos por contusão,
Ficara tão ressentida de outro artilheiro
Da mesma luminosidade, que, você,
Romário, ali se encaixaria feito luva
Para o que seria o maior título
De todos os tempos do futebol.
E, se Paolo Rossi fizesse trezentos gols,
Você haveria de fazer outros trezentos e trinta,
Com passes precisos de Falcão, Zico, Cerezo
E Sócrates, o quadrado mais mágico
Que alguém já desenhou.

Perdoe-me tantas conjecturas, Romário,
No dia da sua despedida com a camisa
Da Seleção Brasileira.
É que você merecia uma Copa do Mundo
Mais brilhante que a de 94,
Conquistada apenas nos pênaltis.
No mais, você foi sempre impecável:
Maior artilheiro de todos os tempos,
Da grande área.

Publicado no Diário do Rio Doce, em 27 de abril de 2005.

(Pedro Ramúcio)

20 comentários:

  1. Gosto desta simplicidade com que fazes poemas....
    Bj

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  2. Magnólia,
    Acabas de me presentear ricamente com o maior dos elogios à quem escreve...
    Acabas de me fazer poeta por mais quinze anos ao menos...
    Ser poeta é ser simplesmente simples, feito o rio que corre pro único mar por que corre...

    De coração, medula e alma,
    Pedro Ramúcio.

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  3. será que eu gosto do romário, ramúcio?
    não sei te resp[onder.
    mas gosto de você.
    muito.

    abração do seu amigo
    roberto.

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  4. Roberto,
    Gostar do Romário é difícil. Como é difícil não respeitar o grande futebol que ele praticou em campo. Fora de campo são outros quatrocentos, né? Eu mesmo tenho um poeminha em que canto assim:

    CORAÇÕES RETICENTES

    Vão tristes os transeuntes pelas avenidas
    Cuidam menos das próprias vidas
    Que da vida dos outros

    São Caetanos solfejando uma cifra antiga do Fagner
    São Romários capengando atrás de um milésimo do Pelé
    São Shummachers marchando contra as pólis e apólices do Senna
    São Ronaldos vestindo a coroa do verdadeiro Rei Reinaldo
    Seria eu anunciando-me um supra-Pessoa

    (Pedro Ramúcio)

    Também tenho meu equinócio, poeta (rs)...

    De quem te gosta muito (dentro e fora do poema),
    Ramúcio.

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  5. ramúcio,
    caetano jamais solfejaria nada de fagner. eles se odiavam muitíssimo. quando estivermos aí, naquela pizza prometido, contarei algumas estorietas.
    outra cousa:
    a busca pelo milésimo gol de romário foi uma farsa. uma grande e "bufa" farsa.
    ah, sim, ele era um grande jogador. e o teria sido com 100, 200 ou 900 gols.
    mas reinaldo também o foi.
    encerrou a carreira precocemente e não deve ter chegado aos 400 gols em sua carreira. mas isso é tão desimportante.
    reinaldo é pura poesia (sei que você não está comparando ninguém, respeito isto... mas uso aqui um exemplo... pois sei que você o admira)
    romário?
    terá sido ele pelo menos prosa?
    tenho minhas dúvidas.

    abração do
    roberto.
    (esse que não é prosa e nem poesia)

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  6. Roberto,
    O verso saiu pela culatra! Ou não!
    Toda grande obra, todo grande Octávio Paz, todo grande Garcia Lorca, vêm mudar rumos, estabelecer rotas nunca dantes naufragadas. Vou perdendo um verso aqui, acertando uma rima acolá, mas o poema causa ao menos estranheza, o que já se lhe é o bastante, sim?
    Poeta, do alto da minha mais pura ingenuidade, jamais entenderei isso: fagner e caetano não se beijam, por puro lustro de vaidades. Um, gênio da voz; outro, gênio da canção. E eu não preciso dizer qual é o gênio disso e qual, o gênio daquilo. Mas Fagner ser gênio da voz incomoda mortalmente Caetano, e Caetano, gênio da composição, fere Fagner de vidro e corte.
    Ou será que eles se estranham mesmo por causa de um ovo frito? Fritos estamos nós enquanto nossos maiores artistas se mostram verdadeiras vedetes de tablado nenhum. Por isso o axé, o breganejo e o pagodegospel surfam de braçada nas ondas das grandes paradas de sucesso com o pequeno talento que têm. Porque esse mérito lhes não podemos tirar: são unidos na diferença.
    Está mais do que na hora de Caetano, pela Bahia, e Fagner, pelo Ceará, lançarem uma turnê conjunta pelo Brasil adentro, e mostrarem que amam seu país e seu público acima de si mesmos, ou deles próprios.
    Está mais do que na minha hora de ir dormir, porque daqui a pouquinho eu tenho muitos zapatos pra vender, para vencer mais um tributado dia do Brasil. Ou o fornecedor penhora ainda mais meu tempo de parcas horas vagas.
    Quanto ao resto, amo Fagner e Caetano doidamente.
    Quanto a Romário, sou mais Reinaldo (dentro e fora de campo).
    E sou mais você sempre, amigo.

    Com mil desculpas,
    Pedro Ramúcio: que te adora.

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  7. da rama,
    achei engraçado cê falar de um ovo frito, pois foi um ovo frito o momento que apaziguou (UMA ESPÉCIE DE TRÉGUA) os dois, após quase duas décadas de fogo cruzado.

    explico: juntou-se a nata da música nordestina (e a bahia também é nordeste) para gravar um compacto (nos moldes de 'we are the world') com a canção "chega de mágua", cuja renda seria revertida para as vítimas nordestina (não sei se da seca ou das enchentes)...
    e a reunião pré-disco rolou na casa de fagner, que na época era executivo do selo epic, da cbs (hoje sony music)...
    caetano chegou com fome e fagner foi pro fogão fazer um ovo frito pra caetano. foi um momento terno, de camaradagem, entre os dois.

    não sei se fagner é um gênio da canção, como você diz (mas o que sei eu?).
    admito que ele teve grandes momentos e que foi uma influência enorme na minha vida (isso dele musicar pessoa, florbela, cecília... gullar... etc... isso ajudou a me fazer quem sou...
    mas senti-me traído pelo artista. pelos direcionamentos... pelas opções artísticas que ele assumiu após o disco Traduzir-se.
    isso eu sei: movido sabe-se lá por que energia, em algum lugar da estrada, ele perdeu o fio da sua meada.
    reconheço, também, que ele tentou retomar. mas ja tinha perdido a embocadura. já era tarde demais.

    ainda sou fã dele.
    ainda sou fã de caetano, que anda com um discurso chatíssimo.
    e acho que o brasil precisa escutar mais o que caetano canta, e menos o que caetano diz.

    mas isso é papo praquela pizza com cerveja, que ta pertinho de se concretizar.

    abraça-o, esse que nada sabe,

    o RL.

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  8. Roberto,
    Usando das palavras de Gil, digo-lhe: deixemos Fagner e Caetano.
    Mas a pizza dantes prometida, não. Já a degusto, poeta. Já a degusto...

    Seu fã (faminto rs),
    Ramúcio.

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  9. Olá, Pedro, adoro a voz, as composições do João Bosco, e concordo com vc quando fala nas impressões sensoriais que provoca, muito bem colocado. Sou fá de Florbela tb, e confesso, comecei a senti vontade de poetar quando ouvi 'Fanatismo' com o Fagner, que maravilha, hein? aquilo toca fundo o coração da gente.E ouvi dizer que há uma versão cantada por portugueses meio em ritmo de fado, acredito, que é simplesmente fantástica.
    Obrigado pela visitas, pelos comentários, gosto muito de te ver lá. Grande abraço.

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  10. Campanella,
    "Fanatismo" é um dos momentos mais felizes da obra do Fagner, e um estandarte da arte em língua portuguesa, né! Em ritmo de fado deve ser uma peça preciosa também. Façamos um trato: busquemo-la, e quem a achar primeiramente, passa pro outro.
    Fechado, poeta? E continuemos poetando que verso ou prosa não faz mal a ninguém.
    Ah! visitar-te é um vício que me faz tanto bem. Suas palavras e imagens expressam muita sensibilidade e sutilezas várias.
    A propósito, visitei um blog que quero indicar-lhe. É o 'visuAl' do AL Chaer, creio que você vai identificar-se com as coisas de lá. (Tem um link dele num comentário que recebi no pôsti anterior a este, o VIOLÃO BOSCO.)
    Esse João Bosco que já nasceu espécie em extinção, modelo único na música.

    Brigadão pela visita,
    Pedro.

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  11. Ramúcio, adoro seu nome, e também prefiro vc ao baixinho. mas gosto do poema.

    um cheiro dessa área.

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  12. Olá Pedro!
    Agradeço sua visita......estou a lhe seguir.
    Volte sempre.Bom Domingo.

    Forte Abraço M@ria

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  13. Nina,
    O Baixinho é muso muito complicado. Cantá-lo desagrada a rubro-gregos e cruz-troianos. Mas acho que o poema (que bom que você o aprecia) tece loas ao talento de um verdadeiro craque.
    Ainda bem que aprendi com um grande artista baiano - Roberto Mendes, de Santo Amaro, de quem não me cansarei de falar aqui, por seu talento, humildade e caráter - que a maior beleza de uma obra está na grandeza de quem a criou. Talvez, por isso, os versos de Fernando Pessoa "são" uma das coisas mais lindas que já vi.
    Sua visita é sempre um orgulho pra mim, Nina Rizzi, moça do nome com música.

    Seu fã, com firma reconhecida e tudo:
    Pedro Ramúcio.

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  14. Oi, Maria
    Que bom recebê-la aqui, uma honra imensa. Estarei sempre revisitando você, venha sempre também. Poesia é compartilhar...

    Com alegria,
    Pedro R@múcio.

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  15. o baixinho ganhou alturas em teus versos. abraço

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  16. Assis,
    Dizem as boas línguas que o Baixinho não foi mais alto porque "pisou na bola" algumas vezes fora de campo, fora de jogo, fora de hora...
    Noves fora tudo, você aqui me dá uma goleada de alegria.

    Com 1001 sorrisos,
    Pedro Ramúcio.

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  17. Grande Pedro Ramúcio,

    "Dentro da área" e estamos combinados !!!

    Foi mesmo o genial Cruyiff quem disse isto sobre o Romário.

    Sobre o Ronaldo, O FENÔMENO, quando ele ainda jogava no Cruzeiro, o saudoso Ênio Andrade, seu técnico na época, disse, comentando sobre o futebol do - então garoto - que era chamado de Ronaldinho:

    "A bola gosta dele."

    Já sobre o REI, tem uma boa do Pepe. Ele diz assim:

    - Eu sou o maior artilheiro da História do Santos.

    Aí todos se espantam. Ele completa:

    - O Pelé não vale. O "Negão" é de outro mundo. Um ET.

    O Pepe fez uns 500 gols com a camisa do Santos.

    vALeu !!!

    AL-Braços
    AL-Chaer

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  18. AL,
    Você enriquece esse humilde blog com sua visita sempre especial, e mais rico o deixa com essas histórias maravilhosas do mundo mágico do futebol. Sandro Moreyra tinha uma coluna deliciosa na Revista Placar sobre esse assunto, lembra?
    Essa do Ênio Andrade pro Ronaldinho "dentuço" é genial, hein! Eu não a conhecia, amigo. Obrigado por me contar, mas quero outras: gostei, uai!!!
    Vamos trocando figurinhas, então!
    O "Baixinho" é muso dos mais complicados, rapaz. Provoca confusão até sendo homenageado em verso e prosa. Aliás, num bate-boca com o REI, ele proferiu este impropério:
    __ Calado, o Pelé vira um poeta.
    Pode?

    AL-Braço mineiro,
    Pedro Ramúcio.

    pêésse: seu blog visu-AL-Chaer é terapia pra alma, vou lá e monto em nuvens. Super-parabéns!!!

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  19. Bemmmmmmmmmm...não há mesmo ninguém perfeito, tinhas tu que pecar em algo...rsrssr

    Fultebol..complexos e traumas( das mulheres que amam um viciado em bola...hhehe). Mas uma coisa hei de concordar ctgo; Romario, entre os grandes o maior...ao menos , o melhor da minha época, do pouco q conhço no fultebol.

    Mas uma perguna me faço,será que ele te leu? Pois deveria,teria ele merecido ler.

    Um abraço, como daqueles de qdo se comemora um gol..

    Erikah

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  20. ErikaH,
    O pontapé inicial do CANTO GERAL foi com uma homenagem ao Telê Santana, num texto que escrevi quando o Mestre ainda estava atuando no futebol, apesar de já no finalzinho da carreira de treinador, ele que foi o maior de todos pra mim.
    E esse poema, sim, eu gostaria que tivesse chegado às mãos do meu 'muso', mas, infelizmente, quis o destino que fosse diferente de minha vontade...
    Quanto ao Romário, quem sabe um dia ele ouça que um humilde e símplice poeta escreveu que ele é o "Noel Rosa do futebol", o gênio de Vila Isabel que em 2010 completará cem anos de nascimento... quem sabe?

    Abraço de quem ama poesia, música e futebol:
    Pedro Ramúcio.

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