sexta-feira, 28 de agosto de 2009

AMARES QUE VÊM PRA BEM












Um dia voltei de um passeio à Bahia (você nunca foi à Bahia? Então, vá!), mais precisamente Santo Amaro de Roberto Mendes, e trouxe incubado em mim este poema:

Amar
Verso que eu escrevo com uma palavra só
Só uma palavra
Amar

Amar a Sagrada Escritura de Guimarães Rosa
Amar o verso de Machado
e de Bilac, a prosa

Amar a rima íntima de Jorge Portugal
Lágrima que derramo sem sal
Tiro com que me firo e viro imortal

Amar
Verso que eu escrevo com uma palavra só
Só uma palavra
Amar

Amar cada pessoa do Pessoa
(Toda a gentil epifania de Bethânia)
Que ressoa uma religião tão boa em mim

Amar de toda maneira o mineiro Drummond
E o pernambucano Manuel Bandeira
E a canção maior do carioca Caetano Veloso

Amar
Verso que eu escrevo com uma palavra só
Só uma palavra
Amar

Amar intransitivamente num transe fraterno
(Que vai dar na dor de amar sem remédio)
Essa farmácia espiritual que somos

Amar até o último mísero minuto zero
(Deus nos livre do fogo fátuo da paixão)
Com a leveza de uma reza que leva e não traz

Amar
Verso que eu escrevo com uma palavra só
Só uma palavra: amar

(Pedro Ramúcio)

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