

"Este é o poema no blogue
por onde o poeta escuta
se dele falam mal
ou se o amam.
Um poema no blogue
sequioso de comentários?
São nenhum livro velho
e mais nem um livro novo
de um poeta inda mais louco
que a morte que sonhou
e contudo o provoca
a morrer nunca e sempre.
Tantos livros que a vida
empurrou para longe
de mim
mais um poema no blogue
em que o poeta se contempla
e se diz bom-dia
(ensaio de boa-tarde,
variante de boa-noite,
que tudo é a vasta noite
em seus compartimentos
nem sempre respiráveis
e todos habitados
enfim.)
Não me leias se buscas
flamante novidade
ou sopro do Pessoa.
Aquilo que escondo
e o mais que segue explícito
em negros alçapões
são notícias humanas,
simples estar-no-mundo
de um heterônimo-órfão,
um não-estar-estando,
mas de tal jeito urdidos
o roubo e a confissão
que nem distingo eu mesmo
o sentido e o solapado.
Tudo roubado? Nada.
Nada sentido? Tudo.
O blogue pouco cuida
de direitos autorais:
e a paródia mais rica
é um sinal de mais."
(Pedro Ramúcio sobre o Poema-Orelha de CDA)