segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

REBUARQUE

Em 1994, eu escrevi este poema para o cinquentenário do maior compositor da música popular brasileira. Eu contava 23 primaveras e o poema foi publicado no jornal "O Contraditório" da Fadivale, faculdade de direito que eu abandonei de fato faltando um ano para ser bacharel. Logo a seguir ingressei no curso de Comunicação Social ( para fazer jornalismo & publicidade), mas para meu antimarketing, também não concluí graduação. Vamos ao poema então, que um poeta precisa ter mãos pálidas para não morrer de fome:

Ninguém sabe ser Chico Buarque
Porque para ser Chico Buarque
É preciso saber não ser.
Nem mesmo Buarque é.

Buarque é mulher? Não é.
Buarque é Noel? Não é.
Buarque é carioca? Não é.
Buarque é PARATODOS? Não é.
Buarque é tudo ainda mais,
Toda poesia que se for capaz.

Buarque é paralelo de um deus
Que um dia quis ser dois.
Buarque é rima que se ri
Admirada da própria graça.
Buarque é música pra alma,
Quando a alma é visitada.

Buarque é melhor não perguntar
Se é de carne e osso e vai virar pó.
Sua composição (tudo o que ele compõe)
É matéria para outra transformação.
Sua construção (tudo o que ele constrói)
É espécie de outra inspiração.

Buarque é cedo para afirmar
Mas no fim do mundo ele vai estar lá
Com seus mesmos olhos azuis,
E outro mundo vai recomeçar.
Com seus versos sendo a manhã,
Uma manhã eterna para durar.

Buarque nunca vai passar
Buarque nunca vai
Buarque nunca
Buarque ou
Rebuar
Que.

Ao meu poeta Anísio Costa

(Pedro Ramúcio)

6 comentários:

  1. Belo post, Ramúcio.
    Exercite. Exorcise.
    Estarei aqui pra te ler.
    Abração do
    Roberto.

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  2. Roberto,
    Obrigado pela presença sempre. Sei que nem precisava pedir, mas me espalhe pela aí aos seus.
    De quem guarda como ouro nossa amizade,
    Ramúcio.

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  3. Buarque, tudo e todos, o rei, o oprimido, a prostituta, a santa, o malandro, o bandido... alma coletiva, coração individual, animus, anima.....

    O Buarque muito me marcou, e ainda marca, deixou coisas inesquecíveis... eu diria um gênio.
    Bela homenagem, Ramucio. Grande abraço.

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  4. Fernando,
    Quem um dia pariu que "a saudade é o revés do parto/a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu..." realmente teria que se tornar um pedaço de ti, de mim, de nós: amantes da palavra que marca sem cicatriz nossos sentimentos. Assim como você tange nossas almas com seus poemas e fotografias.

    Grande abraço também,
    Ramúcio.

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  5. Obrigada Pedro por deixar este poema bonito lá no Primeiramente...Volte sempre

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  6. Magnolia,
    Primeiramente, obrigado pela honra de hospedar meu poema em seu blog. O grande Hermínio Bello de Carvalho, que aliás é parceiro de Buarque, diz numa canção que "amigo é casa": e é assim que me sinto, ao ser aceito no seu espaço-lar.
    Voltarei sempre, com certeza. Espero que você venha outras vezes também.

    Valeu de coração,
    Pedro Ramúcio.

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