Há artistas que são divisores de água, que partem o tempo ao meio, que estabelecem novas fronteiras (de paz!), que movem moinhos futuros, que descontroem muros de concreto mas erguem pontes imaginárias de luz (verdadeiros arcos-de-triunfo da humanidade), que são antenas da raça. Com sua religiosidade pacífica, pregando a não-violência, Gandhi foi um desses artistas. Com seu claro canto iluminador, Renato Braz pertence à espécie.
Quem faz assim com a voz
Põe é tudo ao contrário
O poeta salvo no calvário
O rio vai nascer na foz
Quem canta assim des’jeito
Põe é tudo arrevirado
O amor sem um pecado
O humano sem defeito
Quem lança um canto assim
Põe é tudo ponta-cabeça
O imponderável aconteça
O impossível tenha fim
Quem desfia assim uma canção
Põe é tudo detrás pra frente
O antigo de moda novamente
O moderno em liquidação
Quem traz assim o sol em si
Põe é tudo fora do trilho
O poente reluzente brilho
O breu se oriente aqui
(Dedicado ao músico valadarense Marcelo Novaes,
quem primeiro me disse de Renato Braz;
ao percussionista biquense Zé Bré, com quem simpatizei
à primeira vista: ele num programa do Boldrin,
eu em casa 'dando milho aos pombos';
ao poeta Roberto Lima, pra que a lista fique infinita...)
(Pedro Ramúcio)




