Cismo que em algum lugar -
Nada se parece mais com um paraíso -
Existe uma Pasárgada perdida
Dando Bandeira pra mim.
(Dedicado a Nina Rizzi)
(Pedro Ramúcio)
A deferência é uma das maiores formas de reverência, e vice-versa. Vide os versos do talentosíssimo poeta Assis Freitas, que transponho, feito um rio, leito de um São Francisco caudaloso de lirismo e redemoinhos poéticos (perigoso então ficar só nas margens da poesia, e isso lembra canção de Roberto Mendes, outro baiano genial: há que naufragar nessas águas do tempo, para assim se lavar melhor), vide os versos abaixo que deságuam lá do "mil e um poemas" aqui no Canto Geral. Banhem-se, amigos! Fartem-se com esse raro percurso pela obra oblíqua e reta de Drummond, desde Itabira até Feira de Santana:
I
o amor bate na aorta:
então é preciso sangrar
II
tenho leite e jornais
todos os dias
e alguma poesia
III
as cidades e os moinhos
ficam no meio do caminho
IV
não há idade madura
as palavras apodrecem
se não forem gastas
V
consigo rimar outono
com a pedra que sonho
com sono, não
VI
já nasci gauche
o anjo torto
não era pervertido
VII
preso as minhas roupas
e alguma classe
fico cinzento e sem pátria
VIII
sejamos pornográficos
o mundo não é vasto
o mundo parece doce
como soda, raimundo
IX
queria ter nascido
em Andradina
seria uma forma
fina de rima
X
não chores meu filho
ainda há versos que
não foram escritos
(Assis Freitas)